Generalidades
Depressão é uma palavra freqüentemente usada para descrever
nossos sentimentos. Todos se sentem "para baixo" de vez em quando,
ou de alto astral às vezes e tais sentimentos são normais. A depressão,
enquanto evento psiquiátrico é algo bastante diferente: é
uma doença como outra qualquer que exige tratamento. Muitas pessoas pensam
estar ajudando um amigo deprimido ao incentivarem ou mesmo cobrarem tentativas
de reagir, distrair-se, de se divertir para superar os sentimentos negativos.
Os amigos que agem dessa forma fazem mais mal do que bem, são incompreensivos
e talvez até egoístas. O amigo que realmente quer ajudar procura
ouvir quem se sente deprimido e no máximo aconselhar ou procurar um profissional
quando percebe que o amigo deprimido não está só triste.
Uma boa comparação que podemos fazer para esclarecer as diferenças
conceituais entre a depressão psiquiátrica e a depressão
normal seria comparar com a diferença que há entre clima e tempo.
O clima de uma região ordena como ela prossegue ao longo do ano por anos
a fio. O tempo é a pequena variação que ocorre para o clima
da região em questão. O clima tropical exclui incidência
de neve. O clima polar exclui dias propícios a banho de sol. Nos climas
tropical e polar haverá dias mais quentes, mais frios, mais calmos ou
com tempestades, mas tudo dentro de uma determinada faixa de variação.
O clima é o estado de humor e o tempo as variações que
existem dentro dessa faixa. O paciente deprimido terá dias melhores ou
piores assim como o não deprimido. Ambos terão suas tormentas
e dias ensolarados, mas as tormentas de um, não se comparam às
tormentas do outro, nem os dias de sol de um, se comparam com os dias de sol
do outro. Existem semelhanças, mas a manifestação final
é muito diferente. Uma pessoa no clima tropical ao ver uma foto de um
dia de sol no pólo sul tem a impressão de que estava quente e
que até se poderia tirar a roupa para se bronzear. Este tipo de engano
é o mesmo que uma pessoa comete ao comparar as suas fases de baixo astral
com a depressão psiquiátrica de um amigo. Ninguém sabe
o que um deprimido sente, só ele mesmo e talvez quem tenha passado por
isso. Nem o psiquiatra sabe: ele reconhece os sintomas e sabe tratar, mas isso
não faz com que ele conheça os sentimentos e o sofrimento do seu
paciente.
Como é?
Os sintomas da depressão são muito variados, indo desde as sensações
de tristeza, passando pelos pensamentos negativos até as alterações
da sensação corporal como dores e enjôos. Contudo para se
fazer o diagnóstico é necessário um grupo de sintomas centrais:
- Perda de energia ou interesse
- Humor deprimido
- Dificuldade de concentração
- Alterações do apetite e do sono
- Lentificação das atividades físicas e mentais
- Sentimento de pesar ou fracasso
Os sintomas corporais mais comuns são
sensação de desconforto no batimento cardíaco, constipação,
dores de cabeça, dificuldades digestivas. Períodos de melhoria
e piora são comuns, o que cria a falsa impressão de que se está
melhorando sozinho quando durante alguns dias o paciente sente-se bem. Geralmente
tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os sintomas
simultâneos, aliás, é difícil ver todos os sintomas
juntos. Até que se faça o diagnóstico praticamente todas
as pessoas possuem explicações para o que está acontecendo
com elas, julgando sempre ser um problema passageiro.
- Pessimismo
- Dificuldade de tomar decisões
- Dificuldade para começar a fazer suas tarefas
- Irritabilidade ou impaciência
- Inquietação
- Achar que não vale a pena viver; desejo de morrer
- Chorar à-toa
- Dificuldade para chorar
- Sensação de que nunca vai melhorar, desesperança...
- Dificuldade de terminar as coisas que começou
- Sentimento de pena de si mesmo
- Persistência de pensamentos negativos
- Queixas freqüentes
- Sentimentos de culpa injustificáveis
- Boca ressecada, constipação, perda de peso e apetite, insônia,
perda do desejo sexual
Basicamente existem as depressões monopolares (este não é
um termo usado oficialmente) e a depressão bipolar (este termo é
oficial). O transtorno afetivo bipolar se caracteriza pela alternância
de fases deprimidas com maníacas, de exaltação, alegria
ou irritação do humor. A depressão monopolar só
tem fases depressivas.
Os sintomas depressivos apesar de muito comuns são pouco detectados nos
pacientes de atendimento em outras especialidades, o que permite o desenvolvimento
e prolongamento desse problema comprometendo a qualidade de vida do indivíduo
e sua recuperação. Anteriormente estudos associaram o fumo, a
vida sedentária, obesidade, ao maior risco de doença cardíaca.
Agora, pelas mesmas técnicas, associa-se sintoma depressivo com maior
risco de desenvolver doenças cardíacas. A doença cardíaca
mais envolvida com os sintomas depressivos é o infarto do miocárdio.
Também não se pode concluir apressadamente que depressão
provoca infarto, não é assim. Nem todo obeso, fumante ou sedentário
enfarta. Essas pessoas enfartam mais que as pessoas fora desse grupo, mas a
incidência não é de 100%. Da mesma forma, a depressão
aumenta o risco de infarto, mas numa parte dos pacientes. Está sendo
investigado.
A depressão costuma atingir 15 a 25% dos pacientes com câncer.
As pessoas e os familiares que encaram um diagnóstico de câncer
experimentarão uma variedade de emoções, estresses e aborrecimentos.
O medo da morte, a interrupção dos planos de vida, perda da auto-estima
e mudanças da imagem corporal, mudanças no estilo social e financeiro
são questões fortes o bastante para justificarem desânimo
e tristeza. O limite a partir de qual se deve usar antidepressivos não
é claro, dependerá da experiência de cada psiquiatra. A
princípio sempre que o paciente apresente um conjunto de sintomas depressivos
semelhante ao conjunto de sintomas que os pacientes deprimidos sem câncer
apresentam, deverá ser o ponto a partir do qual se deve entrar com medicações.
Existem alguns mitos sobre o câncer e as pessoas que padecem dele, tais
como"os portadores de câncer são deprimidos". A depressão
em quem tem câncer é normal, o tratamento da depressão no
paciente com câncer é ineficaz. A tristeza e o pesar são
sentimentos normais para uma pessoa que teve conhecimento da doença.
Questões como a resposta ao tratamento, o tempo de sobrevida e o índice
de cura entre pacientes com câncer com ou sem depressão estão
sendo mais enfocadas do que a investigação das melhores técnicas
para tratamento da depressão.
Normalmente a pessoa que fica sabendo que está com câncer torna-se
durante um curto espaço de tempo descrente, desesperada ou nega a doença.
Esta é uma resposta normal no espectro de emoções dessa
fase, o que não significa que sejam emoções insuperáveis.
No decorrer do tempo o humor depressivo toma o lugar das emoções
iniciais. Agora o paciente pode ter dificuldade para dormir e perda de apetite.
Nessa fase o paciente fica ansioso, não consegue parar de pensar no seu
novo problema e teme pelo futuro. As estatísticas mostram que aproximadamente
metade das pessoas conseguirá se adaptar a essa situação
tão adversa. Com isso estas pessoas aceitam o tratamento e o novo estilo
de vida imposto não fica tão pesado.
A identificação da depressão
Para afirmarmos que o paciente está deprimido temos que afirmar que ele
sente-se triste a maior parte do dia quase todos os dias, não tem tanto
prazer ou interesse pelas atividades que apreciava, não consegue ficar
parado e pelo contrário movimenta-se mais lentamente que o habitual.
Passa a ter sentimentos inapropriados de desesperança desprezando-se
como pessoa e até mesmo se culpando pela doença ou pelo problema
dos outros, sentindo-se um peso morto na família. Com isso, apesar de
ser uma doença potencialmente fatal, surgem pensamentos de suicídio.
Esse quadro deve durar pelo menos duas semanas para que possamos dizer que o
paciente está deprimido.
Causa da Depressão
A causa exata da depressão permanece desconhecida. A explicação mais provavelmente correta é o desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor. Esta afirmação baseia-se na comprovada eficácia dos antidepressivos. O fato de ser um desequilíbrio bioquímico não exclui tratamentos não farmacológicos. O uso continuado da palavra pode levar a pessoa a obter uma compensação bioquímica. Apesar disso nunca ter sido provado, o contrário também nunca foi. Eventos desencadeantes são muito estudados e de fato encontra-se relação entre certos acontecimentos estressantes na vida das pessoas e o início de um episódio depressivo. Contudo tais eventos não podem ser responsabilizados pela manutenção da depressão. Na prática a maioria das pessoas que sofre um revés se recupera com o tempo. Se os reveses da vida causassem depressão todas as pessoas a eles submetidos estariam deprimidas e não é isto o que se observa. Os eventos estressantes provavelmente disparam a depressão nas pessoas predispostas, vulneráveis. Exemplos de eventos estressantes são perda de pessoa querida, perda de emprego, mudança de habitação contra vontade, doença grave, pequenas contrariedades não são consideradas como eventos fortes o suficiente para desencadear depressão. O que torna as pessoas vulneráveis ainda é objeto de estudos. A influência genética como em toda medicina é muito estudada. Trabalhos recentes mostram que mais do que a influência genética, o ambiente durante a infância pode predispor mais as pessoas. O fator genético é fundamental uma vez que os gêmeos idênticos ficam mais deprimidos do que os gêmeos não idênticos.
http://www.psicosite.com.br/tra/hum/depressao.htm
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